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Resenha e ajuda real: a história por trás da foto da última tabela de Pelé e Garrincha, há 40 anos

Revista Placar reuniu os dois maiores craques da história do futebol brasileiro numa cobertura em Copacabana. Jornalistas lembram encontro de respeito, carinho e admiração que durou três horas

Por Raphael Zarko — Turim, Itália

19/11/2022 04h00 Atualizado há 2 dias

Novembro de 1982. Garrincha chegava na cobertura de um amigo de Pelé em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Mané já vivia em Bangu, com Vanderléa, mulher do seu último casamento. O encontro completa 40 anos às vésperas da Copa de 2022, foi a última tabela dos dois maiores craques da história do futebol brasileiro.

A reunião foi promovida pela revista Placar, que entitulou "Reunimos os nossos maiores ídolos" no abraço e no sorriso de Pelé e Garrincha. Era a capa da edição do fim daquele mês e foi para a banca exatamente num dia 19 de novembro. No ano de 1982.

Capa da Placar com Pelé e Garrincha — Foto: Acervo Placar

Pelé e Garrincha - Revista Placar — Foto: Acervo Placar

Garrincha tinha 49 anos, estava bem fora de forma - o que já não era novidade nos últimos anos da carreira do "anjo das pernas tortas" -, mas não aparentava naquela manhã e início de tarde que estava debilitado de saúde. Apenas dois meses depois, em 20 de janeiro, ele faleceu.

Jovial, Pelé tinha acabado de fazer 42 e estava em ótima forma - numa das fotos da reportagem, usa uma sunga azul e mostra corpo de atleta que exibiu durante muitos anos depois da aposentadoria.

Lemyr Martins e Hideki Takizawa, os dois jornalistas que assinaram a reportagem, contaram ao ge como foi a última resenha dos craques. O encontro durou cerca de 3h, na cobertura de um amigo de Pelé, que estava com seu assessor inseparável Pepito Fornos, aposentado recentemente, depois de 50 anos ao lado do Rei.

- Quando falei do Pelé sobre a matéria. Primeiro, ele queria saber: "Como ele (Garrincha) está?" - lembra Lemyr Martins, que vive em Porto Alegre e está com 86 anos.

Naquela manhã, Mané parecia bem de saúde, apesar dos conhecidos problemas com bebidas. Lemyr conhecia Garrincha ainda pelas matérias que escrevia quando trabalhava na Zero Hora, tradicional jornal do Rio Grande do Sul. Outro jornalista que participou da matéria, Rodolpho Machado, comprou uma camisa para o eterno ídolo alvinegro e da seleção brasileira.

- Para ele ficar mais arrumadinho - conta Lemyr.

Garrincha e Pelé - Botafogo e Santos — Foto: Acervo Placar

Pelé e Garrincha — Foto: Acervo Placar

Pelé e Garrincha — Foto: Acervo Placar

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Na véspera do encontro, o Botafogo havia vencido o Vasco por 4 a 1, o que provocou a primeira interação entre os ídolos. A reportagem relata que Pelé pergunta a Garrincha se "o seu Botafogo está de volta?"

- Espero que não seja fogo de palha - brincou Mané.

Hideki vive em Rio das Ostras desde o início dos anos 2000. Conta exatos 517 passos entre sua casa e a areia da praia na cidade da Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Foi ele quem convenceu Garrincha a ir ao encontro de Pelé. Não que os dois se dessem mal ou coisa parecida. O motivo era outro.

- Tive que ligar umas três vezes para convencer Garrincha. Falei que era o encontro de reis. Ele dizia: "rei é o Pelé. Eu sou o príncipe", com aquela humildade dele - recorda o jornalista.

- Ele estava dizendo: "Não vou encontrar com o Pelé. Ele está bem, eu estou mal". Ele estava bebendo muito. Mas no dia que levei, ele não bebeu, não. Quando chegou pediu um chá - diverte-se ao lembrar Hideki, que foi buscar o ex-jogador em casa.

Pelé e Garrincha jogaram juntos na Seleção 30 vezes - com 26 vitórias e quatro empates. Mais dez partidas, com dez vitórias, contra clubes e combinados. Nunca perderam com a camisa amarela. A primeira escalação dos dois juntos aconteceu no Pacaembu, em 18 de maio de 1958, amistoso contra a Bulgária, penúltimo jogo antes do embarque para a Europa, onde o Brasil conquistou sua primeira Copa do Mundo.

Com diferença de idade de sete anos de um para o outro, Pelé e Garrincha não tinham laços de amizade profundo, mas muito respeito e admiração mútua.

- Pelé era mais extrovertido, mas respeitava e muito o Garrincha, que ficava naquela de rei para cá, rei para lá. "Ah, responde você primeiro". Ele ficou mais na dele, devagar. Não quis almoçar lá. Acho que já não estava muito bem. Mas não esperava que aquele fosse o último encontro dos dois. Realmente não esperava, mas aconteceu - recordou Hideki.

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Apesar de alguma timidez para entrevista - "ele tinha que ser provocado para falar, por isso tivemos a ideia de fazer aquele ping-pong" (tipo de reportagem em que há perguntas e respostas apenas) -, Garrincha pegava no pé de Pelé.

- Ele gozava o Pelé. "Você fez seus gols, mas ganho de você em filhos" - diz Lemyr, recordando trecho da reportagem, que informava, na época, 13 filhos de Garrincha e três de Pelé.

- Ele tinha boas tiradas. Quando Pelé pegou o violão, ele brincou com o cavaquinho e disse: "A crioula (referia-se à Elza Soares, ex-mulher e cantora) fazia samba assim". Depois, estavam desenhando num papel e começaram a analisar futebol. Ele se colocava na ponta-direita e indo para o meio. Pelé disse: "Você tem que ir para cima e centrar (cruzar)". Garrincha respondeu: "Mas você não estava lá".

Pouco antes de ir embora, Pelé pediu ao seu assessor para chamar Garrincha de lado e passar uma verba para o Mané.

- Lembro que Pepito deu um dinheiro para o Garrincha. Pelé mandou ele dar. Devia ser algo em torno de 100 mil cruzeiros. Não era pouco. A gente não viu, mas o Pepito me disse - conta Lemyr.

- Ele (Pelé) deu um troquinho para o Garrincha. Ele já estava numa ferrada. Não lembro se ele pegou. Mas sei que o Pepito o chamou num canto para dar - recorda Hideki.

Recentemente, por ocasião do aniversário de nascimento de Garrincha, Pelé recordou esse encontro com o velho amigo, ídolo do futebol brasileiro.

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